Tuesday, January 16, 2007

Making of "SIMBIOSE"





Argumento "SIMBIOSE" (2005)

Débora Rossetto, Heitor Caramez, Joana Bedin e Rodrigo Ramos

Duas meninas caminham, lentamente e de mãos dadas, pelo paraíso. A grama do chão, alta, fofa, absorve seus passos leves. O céu está claro, limpo, vê-se algumas poucas nuvens que se assemelham a algodões-doces. Elas sorriem, etéreas. Aproximam-se de uma caixa, e param. A caixa é de madeira, lembra aqueles caixotes de feira. Como se houvessem combinado, as duas se despedem com um abraço, carinhosamente. Raquel abre a caixa, com cuidado, e Nina entra nela. Após fechar a caixa, Raquel dá uma volta e senta sobre ela. como se não tivesse outra coisa a fazer. Nina, lá dentro, vai percebendo o ambiente. Pelas frestas chegam feixes de luz que interrompem a escuridão predominante. Ela tateia, tenta se ajeitar entre as paredes que a encurralam. Raquel respira tranqüilamente o ar abundante do paraíso. Ela está muito relaxada, muito tranqüila. Dentro da caixa, o oxigênio parece faltar, e Nina ofega. Ela parece perceber agora sua situação real, desepera-se, e tenta sair de todo modo. Como não há a possibilidade de comunicação entre elas, Raquel, ignorando a situação de Nina, permanece tranqüila, balançando as pernas como uma criança sem preocupações. O resultado, dentro da caixa, desse movimento são sombras que se movimentam percebidas por Nina, que fica ainda mais em pãnico e começa a se debater. Ela se exaure e perde as forças. Um pouco cansada, Raquel resolve deitar de costas sobre a caixa. Com isso, ela encobre toda a tampa, e a já pouca luz que iluminava Nina é interrompida. O escuro, dentro da caixa, agora é absoluto, e os grandes olhos azuis de Nina não podem mais ver. O tempo parece suspenso e Raquel está, agora, entendiada. Ainda deitada, ela estica os braços, se movimenta, olha para os lados. Finalmente, senta. Como num impulso, apoiando-se nas beiradas da caixa, ela se levanta. Nina, dentro da caixa, agora novamente iluminada por feixes de luz, está desmaiada, exausta. Uma forte luz invade, aos poucos, a caixa, iluminando o rosto de Nina. Ela percebe que a caixa está sendo aberta, parece acordar nesse momento, olhando fixamente para cima, não consegue conter a expectativa. A mão de Raquel está estendida, pronta para resgatá-la, e Nina levanta sua mão também. Novamente de mãos dadas no paraíso, Nina e Raquel caminham, alegres cúmplices, para longe, até chegarem em uma cerca. É o fim do paraíso.

Friday, December 08, 2006

Roteiro "Arquitetura Improvavel" (2006)

"ARQUITETURA IMPROVAVEL"

de Débora Rossetto, Heitor Caramez e Rodrigo Ramos

SEQÜÊNCIA 1/EXT - RUA/PÔR-DO-SOL

Seis horas da tarde, terminal de ônibus. Movimento de pedestres no trajeto de volta para casa. RAQUEL surge entre eles, esbaforida contra a multidão, carregando um papel que parece importante.

SEQÜÊNCIA 2/EXT - RUA/PÔR-DO-SOL

Os estabelecimentos comerciais fecham as portas. RAQUEL chega em frente a um escritório, a porta de vidro está fechada. Pessoas passam. Vê pessoas dentro e quer entrar, mas o segurança a impede.

SEQÜÊNCIA 3/INT-BAR/NOITE

O ambiente está escuro. Nas mesas, pessoas conversam, tomam café, riem, bebem e é tudo que se ouve. CRISTIANO está sozinho em uma das mesas. Mexe no celular, ansioso. RAQUEL entra e se dirige ao bar. Senta em um dos bancos, larga o papel sobre o balcão e pede uma bebida. Seu olhar está distante. O atendente coloca o copo de uísque sobre o balcão, e ela toma um gole. Segurando o copo, fita o fundo através da bebida. Faz movimentos circulares com ele, e toma um grande gole. Franze a boca e larga o copo. Olha ao redor. Levanta-se para sair.

Quando RAQUEL alcança a porta, CRISTIANO se levanta e vai ao balcão. Pede uma cerveja. Percebe o papel que RAQUEL esqueceu sobre o balcão. Olha, vira, vê o papel em branco. Toma um gole no gargalo e começa a fazer um origami.

O garçom atende o telefone.

VITOR chega e procura uma mesa. Senta, pega seu maço de cigarros no bolso. Acende um e traga. Percebe a fumaça. Dá uma tragada menor e bate as cinzas com força. Parece não saber onde pôr a mão, como se tivesse se desacostumado a fumar.

Dois homens discutem energicamente num canto, gesticulam.

HELOISA chega e vai ao encontro de CRISTIANO. Eles vão até uma mesa próxima à de VITOR, de maneira que para VITOR só fique visível HELOISA. CRISTIANO segura o origami sobre as pernas contraídas, abaixo da mesa. Inclina-se para a frente. Mexe compulsivamente as mãos, dobrando e desdobrando o origami. HELOISA sorri e se apóia sobre uma das mãos, segurando o cabelo. Olha para o lado. CRISTIANO sente-se mal ao perceber que ela se dispersou. Põe a mão na mesa. Pega a garrafa de cerveja. Põe a outra mão na mesa. HELOISA olha para ele. CRISTIANO bebe e quando vai devolver a garrafa à mesa, desajeitado, faz com que ela balance.

Um rapaz levanta da sua mesa e pega a garota pela mão. Ela levanta e eles saem de mãos dadas.

Três amigas conversam; uma delas conta animadamente uma história, a outra gargalha.

RAQUEL chega em busca do papel que esqueceu. Olha pelo balcão do bar, ele não está mais ali. Procura pelos arredores.

Um rapaz se aproxima de VITOR e pede fogo, enquanto ele apaga um cigarro no cinzeiro. VITOR entrega o isqueiro e tira outro cigarro de seu maço, mas não chega a acendê-lo porque enquanto o rapaz usava o isqueiro ele viu HELOISA.

HELOISA levanta-se da mesa para ir embora. VITOR, com o cigarro ainda não aceso na mão, percebe. Coloca o cigarro na mesa, sobre o maço, e vai atrás dela. CRISTIANO fica sozinho.

Três coisas acontecem ao mesmo tempo: RAQUEL resolve procurar pelas mesas. Na mesa de VITOR vê o cigarro e o pega furtivamente. VITOR hesita, quer o cigarro, se distancia de HELOISA e ela sai do bar. RAQUEL acende o cigarro com seu próprio isqueiro e traga com prazer. CRISTIANO se levanta e deixa o origami no balcão a caminho do banheiro. RAQUEL volta pro balcão. VITOR volta à sua mesa, senta-se e fuma culposamente,

RAQUEL encontra o origami, percebe que é sua folha e apaga o cigarro, para pegá-la. Desdobra-a, irritada, e tenta desamassar o papel passando as mãos sobre ele.

Uma mulher chega e se dirige a uma mesa de conhecidos, cumprimenta-os e puxa uma cadeira de outra mesa para sentar-se.


FIM

Making of "Arquitetura Improvavel"



Thursday, December 07, 2006

Roteiro "Labios sem Beijo" (2006)

"LÁBIOS SEM BEIJO"
roteiro de DÉBORA ROSSETTO e BRENO TURNES



FADE IN:
INT. QUARTO – DIA

O HOMEM, de calças de alfaiataria, camiseta branca e suspensórios, está deitado na cama de metal, com os braços cruzados sob a cabeça que repousa em dois travesseiros grandes e amassados.

HOMEM
(V. OVER.)
As possibilidades de fim são infinitas.

O Homem está deitado de lado, virado para as costas da MULHER, de vestido-camisola de cetim, também deitada, mas virada para fora da cama. Há um espaço entre eles.

HOMEM
(para MULHER)
A indiferença me cai bem,
lapidando as bordas de pedra crua que envolvem esta cova de distanciamento... Este que faz brotar das veias, congestionadas e escuras, a capacidade de con(v)ivência.

O Homem olha para a mulher. A Mulher ri e sussurra algo ao ouvido dele. Ele não reage. Ela fica séria e o empurra para longe, com pouca força.

HOMEM
(V. OVER.)
Eu cansei de olhar pra ela(eu), que escarnece quando me olha (ela), e que sussurra o que eu sou (nós) - não dela, ou tão pouco, tampouco.

O Homem, deitado atrás da mulher, também deitada, abraçando-a, observa ela brincar com as mãos no ar, como se tivesse um fio entre os dedos.

HOMEM
(para MULHER)
O grito em-nó-zado... A voz muda não chega aos ouvidos,
mas a penumbra conforta. Conforta,abraça e sussurra.
Aquece o vazio em meio aos teus braços esquálidos,
ditando palavras de uma sinistra sobriedade...
Palavras que o ouvido tendencioso irá acolher. Sempre.

A Mulher vira-se, repentinamente, interrompendo a fala do Homem. Eles se olham por alguns instantes e ela se vira novamente. Ele continua a olhá-la.

HOMEM
(V. OVER.)
Às vezes é inútil seguir com uma conversa que não levará a algo novo; uma conversa onde se prevê o começo e o fim e o erro de um e do outro e o necessário - o caminho - pra voltar.

O Homem está deitado na cama, sozinho. Olha para cima, para a câmera.

HOMEM
A angústia datada cessa
deixando latente a dúvida da dor. Quarenta dias de torpor acabam mais rápido que o imaginável, deixando feridas importantes expostas ao ar pútrido dessa vila.

O Homem está deitado na cama de metal, com os braços cruzados sob a cabeça que repousa em dois travesseiros grandes e amassados.

HOMEM
(V. OVER)
Esse tempo todo que não, não é o bastante pra mim. Eu quero todo o tempo que resta - se é que resta (mesmo) alguma coisa. Pensar no tempo que resta é pensar negativamente? Preferia pensar no tempo que tenho - sem conceber o fim ou a morte, ou a proximidade dessas duas coisas. É aquela coisa do copo meio vazio.

A Mulher está sentada na beira da cama. Olha para baixo, na diagonal. Ao fundo, fora de foco, o homem está sentado na lateral da cama, de costas. Vira-se de perfil.

HOMEM
(para MULHER)
Durante todo esse hiato a contra-gosto, tua boca rosa permaneceu colada na minha, teu cheiro se confundindo com o meu suor, tua magreza se (con)fundindo com a minha.

O Homem está sentado na lateral da cama, com o rosto virado, de perfil. A cama está vazia.


HOMEM
(como se fosse para MULHER)
Que jazigo seria mais puro que o lugar onde achaste calor e assistência a teus prantos? Que cemitério seria mais justo que teu abrigo, onde passastes tempos escondendo-te dos outros? Serei o único a jogar flores em teu descanso e orar para que alguém tenha pago tua travessia, pois esta noite decoro meu coração como tua sepultura.

FADE OUT.

FIM

Tuesday, December 05, 2006

Making of "Labios sem beijo"